"A pesquisa também apontou que, dentre os pesquisados,
mais homens com menos de trinta anos fizeram a revelação pública. Alves
acredita que, nestes casos, é mais
fácil para quem nasceu nos anos 90
lidar com a sua
sexualidade por conta do fortalecimento
do movimento gay
surgido
a partir desta década."
Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo
mostrou que a já tradicional Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que
ocorre neste domingo 4, tem razão de escolher como tema a criminalização
da homofobia e a lei de identidade de gênero. O levantamento aponta que
72% dos homens que se assumem publicamente como gays já sofreram
agressões verbais no trabalho, na faculdade e em ambientes familiares,
enquanto 16% dos não assumidos passaram por algo semelhante. A pesquisa
também mostra que, entre os assumidos, 21% já foram agredidos, contra 4%
dos que preferem não se revelar.
A pesquisa, feita pelo psicólogo Luiz Fabio Alves de
Deus para um mestrado realizado na Faculdade de Saúde Pública da USP,
mostrou, além disso, que, em um grupo de aproximadamente 1200 homens
gays, 42% dos que assumem sua sexualidade em todos os contextos sociais
(família, amigo, trabalho, escola/faculdade e também ambientes
religiosos) já sofreram ameaças por conta da orientação sexual. Enquanto
isso, dos que não se assumem, 8% passaram por algo semelhante. No
ambiente de trabalho, um quarto dos que se assumem já sofreram
constrangimentos, como piadas e discriminação velada. O número cai para
zero quando se trata de um gay que não fez a revelação.
Segundo Alves, o aumento das agressões nesses grupos
tem a ver a ruptura do padrão heteronormativo da sociedade. “Isso ocorre
porque o homossexual que se expõe acaba reivindicando mais direito e
espaço para expressar a sua sexualidade.” Alves explica que essa
exposição acaba confrontando regras sociais e incomodando pessoas que
pensam que o afeto gay não pode ter o mesmo espaço que o afeto hetero.
A pesquisa também apontou que, dentre os pesquisados,
mais homens com menos de trinta anos fizeram a revelação pública. Alves
acredita que, nestes casos, é mais fácil para quem nasceu nos anos 90
lidar com a sua sexualidade por conta do fortalecimento do movimento gay
surgido a partir desta década. “O movimento gay comprou a briga e
trouxe às pessoas discussões referentes à sexualidade. Os gays cobraram o
espaço e facilitaram para os nascidos em 1990, que já cresceram com a
ideia de que ser gay é um direito: eles sabem que devem sair do armário,
a questão é como. Já os mais velhos pensam que não devem sair do
armário.”
Alves percebeu, ainda, que menos negros tendem a se
assumir, quando comparados aos brancos homossexuais. Alves explica que
isto está relacionado ao acúmulo de preconceitos. Para ele, os
homossexuais negros, por já sofrerem preconceitos por sua cor, podem ser
impelidos a não admitir para os outros sua sexualidade. “Revelar-se gay
é se expor à situação de violência e preconceito. Isso pode ser
administrado, pois se o gay sabe que será vítima de preconceito, ele
pode não se revelar. Como ser negro não é uma situação que possa ser
administrada, pois está na cara, muitos preferem não revelar a sua
sexualidade porque a carga de preconceito ficaria ainda maior.”
A discriminação aos homossexuais, ao longo da vida,
pode refletir na saúde psicológica dessas pessoas, completa Alves. “São
atos contínuos de violência, da infância até a pessoa morrer. Todos os
ambientes frequentados por essa pessoa oferecem discriminação, os gays
são discriminados em suas casas e até por profissionais da saúde",
afirma. "Relacionei minha pesquisa com outros estudos e vi que na
população LGBT tem aumentado as situações de depressão, ansiedade e
suicídio.”
Alves não quis fazer um julgamento a respeito do que é
melhor para o homem homossexual: se expor, e sofrer mais violência, ou
se esconder. “Na pesquisa, percebi que alguns não se assumiam
publicamente mas frequentavam lugares gays. É a melhor forma? Só a
pessoa pode dizer, é uma escolha individual.” A intenção do estudo,
segundo ele, não é fazer com que os gays permaneçam no armário, mas que
lutem por políticas públicas que os protejam do assédio e das imposições
sociais. “Quando a discriminação é velada, não se defende” lembra.
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Reportagem por Mariana Melo
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publicado
04/05/2014
Fonte: http://www.cartacapital.com.br
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